23 de mai. de 2014

JUIZ AFIRMA QUE A FÉ AFRO-BRASILEIRA NÃO É RELIGIÃO

No mês de maio de 2014, em meio a todo o clima de manifestações e greves, o que voltou a atenção da sociedade para discussões políticas - principalmente os objetivos e métodos de como se deve fazer uma greve - fomos pegos de surpresa por algo que fugiu aos padrões das discussões. A intolerância religiosa novamente tomou posicionamento.

Juiz Eugênio Rosa de Araújo
O Juiz Federal da 17ª Vara Federal, Eugênio Rosa de Araujo, se posicionou de forma contrária a uma decisão do Ministério Público Federal sobre a retirada de vídeos ofensivos no site Youtube feitos por neo pentecostais aos praticantes de religiões afro-brasileiras. A justificativa do juiz foi a de que “manifestações religiosas afro-brasileiras não se constituem religião”.

Essa decisão explodiu revolta não apenas entre os praticantes da Umbanda e do Candomblé, mas entre seus simpatizantes e parte da sociedade que compreende a importância de tais religiões na formação da cultura brasileira. Tais revoltas se manifestaram em atos de rua, com o posicionamento da mídia a favor da opinião pública e de discussões via rede de comunicações por internet, o que fez com que o MPF pressionasse o juiz Eugênio, fazendo-o voltar atrás sobre seu posicionamento.

Os argumentos do Juiz Federal nos mostra que o perigo da intolerância religiosa está para além da existência de líderes religiosos extremistas nos cargos políticos. Essa argumentação usou um discurso técnico, ou seja, sem fala religiosa, o que prova que a própria formação da política brasileira se constrói sobre preconceito cultural, valorizando muito mais formas de culto de base europeia.

Toda solidariedade as religiões afro-brasileiras!
Nós da UJC percebemos que o posicionamento de uma figura pública de alto escalão sobre uma temática tão polemica está presente no contexto de uma sociedade rigidamente hierarquizada. Essa mesma sociedade se vê desesperada com o aumento da voz política e da luta das classes marginalizadas e majoritariamente negras, que estão expondo seu cotidiano e práticas culturais por conta própria, não mais dependendo da aprovação da “moral e dos bons costumes” dos burgueses.

Nisso, lutamos juntos por uma cultura popular independente das exigências burguesas que as modificam para que sejam consideradas civilizadas, gerando o ódio pelo racismo e pelo preconceito de classe. Para isso, temos em mãos uma série de questões que devem ser debatidas e praticadas, principalmente sobre os caminhos a serem seguidos para a ampliação da liberdade de expressão.


Só assim conseguiremos fazer com que não apenas as religiões afro-brasileiras, mas o funk, o hip-hop, o grafite, as rádios comunitárias, a capoeira e demais atividades de caráter popular consigam construir seus próprios caminhos. Só assim podemos educar a sociedade para a compreensão sobre a intensa e complexa rede de práticas culturais diferentes que constroem nossa sociedade e o quanto elas precisam ser livres para se desenvolverem, sem a ganância por lucro e controle político da burguesia moralista e capitalista.




Texto do camarada Gabriel M., professor de História e
membro do Núcleo Elizeu Alves de Jovens Trabalhadores do Rio de Janeiro